‘vai ser perfeito o teu dia meu anjo…'
O tempo à muito que lhe dificultava a visão. Seguia pela estrada em silêncio, só a companhia constante do falatório do motor e a passagem esporádica de luzes que se ligavam a outros carros, marcavam esta viagem…
A chuva transformava a estrada na sua amante, ambas beijavam-se e agarravam-se, tal noite de calor entre dois namorados!
Ele olha pelo espelho retrovisor, movimento mecanizado de um pai atento. No banco detrás, dorme um pequeno anjo, ‘o meu pequeno anjo’, pensava este pai babado, e muitas eram as razoes para estar assim, a pequena menina fazia hoje 5 anos, primava não só pela inteligência excepcional para a sua idade, mas também por uma beleza que fazia a própria Vénus tapar os olhos sempre que, num lapso divinal, os seus olhos pousavam nesta pequena criatura! Tinha a cara de um pequeno anjo, rechonchuda, cabelos loiros e uns olhos azuis que se tornavam sempre em assunto de elogios quando a pequena Sarah se encontrava em família. ‘Sarah, não podia combinar mais com ela, não sei o que fazia sem ti meu amor’!
O fruto do amor entre a chuva e a estrada, dava lugar a um nevoeiro cada vez mais pesado.
‘O dia vai ser perfeito’, pensava o pai, ‘vamos diverti-nos como loucos, chega de desgraças’, não fazia mais de um ano que a mãe do pequeno anjo morrera num acidente de carro… dia negro para a família!
‘Papá!’, exclamou sarah, abrindo os olhos de um modo lento, como que não se lembrando onde estava, nem que ia fazer, mas de repente tudo lhe veio à memoria e num salto eufórico abraçou o pai, ‘papá, papá, hoje faço anos… e o papá vai-me levar a passear, la la la!!’, começou então a entoar uma pequena musica sem qualquer nexo lógico, típico das crianças quando estão num estado de euforia.
‘Sim hoje o meu pequeno anjinho faz anos, e o papá vai leva-lo a um sitio muito especial’, respondeu com o mais terno dos sorrisos este pai babado, ‘ papá, papá, tu também vens comigo para este sito especial?!’, perguntou de um modo inocente a pequena Sarah, ‘ bem não vou poder seguir-te sempre, certas diversões são só para os pequenos meninos, e o pai não vai poder ir contigo! Mas não te preocupes que vou estar sempre do outro lado à tua espera’, respondeu o pai.
O nevoeiro estava cada vez pior, mesmo com os faróis de nevoeiro ligados era difícil ver mais que 2 a 3m à sua frente, ‘raios la po tempo..’, pensou frustrado o pai. As luzes dos outros carros há muito que não se viam, assim como os sinais que se encontravam pela estrada: ‘perigo, ponte incompleta, siga pelo desvio! Pedimos desculpa pelo incómodo! ‘
‘Sabes uma coisa papá, adoro-te’, disse o pequeno anjo, ‘ e o pai também te adora, és tudo para mim! E como tal o pai vai transformar este dia num dia único, magico…’
Ouviu-se uma guinada, e no espaço de visão de 2 a 3m, o pai viu um carro que, por pouco, não lhes bateu para fazer um desvio de ultima hora, ‘mas que raio… mas anda tudo maluco?!’, resmungou o pai! O nevoeiro estava cerrado, e a atenção do pai tinha ido toda para o palhaço que quase lhe bateu no carro a fazer uma manobra estúpida!
Não viu os avisos! O outro carro tinha batido contra as barreiras, por isso não passava de uma estrada normal esta pela qual se dirigiam. Mais um olhar pelo retrovisor para a pequena Sarah, ‘bolas, ela é tão perfeita, sem dúvida que fui abençoado’, pensou o pai, ‘vou tornar este dia único, vai ser perfeito, nada o pode estragar, ela merece! ‘
A pequena Sarah estava no banco detrás a olhar pela janela, pouco tinha para ver, o nevoeiro tapava tudo…
O carro bateu contra algo, as barreiras finais que se põem no fim destas estradas incompletas, apenas servem com sinalização… o pai já não foi a tempo de travar.
A queda foi intemporal, ‘vai ser perfeito o teu dia meu anjo’… No meio do nevoeiro ouviu-se um estrondo… fez-se silencio!